Há algo que paralisa mais do que o medo?


medo
        O último mês do ano é sempre um momento própricio para fazermos um bom balanço geral de tudo que passou, o que conseguimos tirar do papel, o que faltou um pouco mais de energia para concretizarmos e aquilo que ficou somente na lista dos desejos feita lá em dezembro de 2012. Eu estava renovando minha lista, comecei a refletir sobre os itens e fiquei feliz em perceber os pequenos, mas, importantíssimos avanços conquistados, pois muitas vezes queremos grandes coisas e esquecemos que paciência, confiança e intuição formam a base para materializarmos nossos sonhos. E aqueles quereres que não estão na lista? Aquilo que você não se achou capaz, aquela coisa que o medo e a insegurança não permitiram que você ao menos exteriorizasse sua vontade? Pode parecer besteira, mas, somos permeados por mais incertezas do que clarezas.

"...Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Tenho medo de parar e medo de avançar (...)
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo..."  
(Miedo - Lenine)

      Há algo que paralisa mais do que o medo? Como diz Lenine na música acima em certas circunstâncias o medo deixa de ser uma resposta instintiva natural que visa a proteção de um perigo real e torna-se uma amarra, aprisionando toda a subjetividade. Não há otimismo ou criatividade que consiga ser expressada genuinamente quando estamos acorrentados. Além disso, há duas "manifestações" do medo bem conhecidas no nosso dia a dia: A angustia e a ansiedade. 

         Segundo Dalgalarrondo (2008), a ansiedade é um estado de desconforto, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável com manifestações somáticas e fisiológicas (taquicardia, sudorese, tontura, tremores). Já a angústia geralmente refere-se a uma vivência relacionada ao passado com grande conotação corporal (sensação de aperto no peito e na garganta por exemplo). Isso demonstra como somos diretamente mobilizados psicologicamente e até fisicamente por fatores internos/externos, situações que surgem diariamente e que cabe apenas a nós transcendermos.   Outro dia estava passando na tv o filme Rocky Balboa e em uma cena o filho do Rocky tenta convencê-lo a não lutar, dizendo que o envergonharia e que o pai era o culpado pelo insucesso dele. Depois de assistir este  diálogo eu fiquei imaginando o quanto nos afastamos de nós mesmos por medo e muitas vezes criamos desculpas pela falta de realização ou frustração. 
      Neste novo ano que se iniciará desejo a todos vocês (e me incluo nisto) coragem para os obstáculos reais e superação para as barreiras criadas por nós mesmos. 

Steve Jobs
Leia mais:

A angústia e a ansiedade na psicopatologia fundamental autor: Alfredo Simonetti ( dissertação de mestrado)

Referência Bibliográfica:

Dalgalorrondo, P. (2008) Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais (p. 166)
Veja Também:

O céu é o limite

Oportunidade


Dia da Consciência Negra - 20 de Novembro

Zumbi é a maior figura negra da História do Brasil, por ter se tornado símbolo da luta e resistência do afro-brasileiro à escravidão, a data da sua morte hoje remonta a toda trajetória conquistada pelos negros neste pais de dimensões continentais. O preconceito e o racismo ainda andam de mãos dadas em todos  os cantos, entretanto o negro de hoje deve se orgulhar de todo suor e sangue derramado por cada conquista até aqui. Pois ser negro não é apenas uma questão da cor da pele, dos traços ou do cabelo, trata-se de um estado que se configura por meio da cultura de um povo, é algo que vem da alma. Toda vez que ouço falar de Zumbi me emociono e lembro de uma música de um LP do Ilê Aiyê que meu avô deu para meu pai. A música diz assim (para ouvir clique aqui):

Separatismo Não!

Zumbi ôh ôh, ôh ôh 
Encarna no Ilê
E luta para esse povo ver
Lutar
Se elege Zumbi
O tradutor de obá áh áh

Ilê áh áh áh áh
Ilê áháh áh áh
Cresce, o seu poder é muito
Envolva essa força
Unifique essa coragem
Separatismo não
O egocêntrico não tece a união
Não espalha a nobreza
Aparta os corações
oh ih, oh ih, oh ih lê lê lê lê lê, oh ih

Uá todila ji mujibé
Uá todila ji mujibé

Uo só ua-di-muka ah ah
Uo só ua-di-muka ah ah

Udia-nigoé Lumox'w
Udia-nigoé Lumox'w

Ganga Zumbi e quacanga
Ganga Zumbi e quacanga
Ganga Zumbi e quacanga
Ganga Zumbi e ecor

Link: http://www.vagalume.com.br/ile-aiye/separatismo-nao.html#ixzz2lE1Kesgj

Muito poderia escrever sobre esse assunto que me emociona tanto, mas vou apenas terminar com um trecho de um texto do Gilberto Gil falando sobre a música de sua própria autoria chamada "Refazenda", com uma foto muito especial para mim onde fui modelo e minha querida amiga Silvia fotografa entitulou de "Origens"; também há a cena de um ensaio fotográfico que fiz com meu irmão.
Somos os frutos da grande refazenda e nos orgulhamos muito disso.


Veja Também:

Assédio Moral no Trabalho

Atualmente tem sido observado um alto indice de afastamentos médicos ou absenteísmo por adoecimento devido aos conflitos vivenciados no ambiente de trabalho. A maioria desconhece que grande parte das situações prejudiciais a qualidade de vida no ambiente laboral são derivadas do Assédio Moral. De acordo com Márcia Novaes Guedes, juíza de ações trabalhistas e autora do livro Terror Psicológico no Trabalho: o termo "Mobbing, assédio moral ou terror psicológico no trabalho são sinônimos destinados a definir a violência pessoal, moral e psicológica, vertical, horizontal ou ascendente no ambiente de trabalho. O termo mobbing foi empregado pela primeira vez pelo etiologista Heinz Lorenz, ao definir o comportamento de certos animais que, circundando ameaçadoramente outro membro do grupo, provocam sua fuga por medo de um ataque..."
No Assédio Moral o agente busca a degradação das condições pessoais no trabalho, acarretando efeitos negativos a integridade física ou psiquica do funcionário. Este assunto tem ganhado tal relevância que a Organização Mundial de Saúde apresentou em 2002 um quadro contendo as principais diferenças entre conflitos saudáveis e situações de assédio, veja abaixo:
OMS assédio moral
Em pesquisas recentes também foram identificados os principais fatores que colaboram para este triste cenário. São eles: Gerenciamento autoritário, grande carga de trabalho com número insuficiente de colaboradores e muitas linhas de comando. Também é possível observar ataques ao funcionário sob a seguinte forma: 
  • Humilhação ou Rebaixamento;
  • Instigação de colegas contra a vítima;
  • Provocação ou Ridicularização;
  • Abuso verbal;
  • Indução ao pedido de demissão;
  • Designição de tarefas sem sentido ou perigosas;
  • Negação ou omissão a informações essenciais;
  • Monitoramento excessivo;
  • Sobrecarga de trabalho com prazos impossíveis.
Este video acima é o trecho da série Familia Dinossauros, onde o Dino (pai de família e arrancador de árvores) tenta pedir aumento ao seu chefe, Sr. Richfield. A cena traz um superior autoritário, com perfil assediador ao extremo. O programa é cômico, mas, já dá pra ter uma ideia de uma situação onde há alguns dos pontos citados a pouco. Este tipo de Assédio pode gerar enúmeros quadros com complicações comportamentais, físiológicas e psicossomáticas conforme pode ser visto abaixo (Organização Mundial de Saúde, 2002):
OMS assédio moral

Obra de Edvard Munch
Quadro "O grito"
Além disso, não podemos nos esquecer que as pessoas que convivem com a vitima também são afetadas, pois geralmente o assédio causa tamanho sofrimento que traz impactos (diretos ou indiretos) na vida social, como por exemplo: 
  • Auto exclusão da vida social;
  • Queixas frequentes de desconforto físico e psicologico;
  • Descumprimento das obrigações sociais;
  • Distanciamento das relações familiares;
  • Dificuldade para se qualificar para outros trabalhos;
  • Intolerância frente a problemas familiares;
  • Problemas matrimoniais; 
  • Crises ansiosas;
  • Explosão de raiva ou violência.
De acordo com a Organização Assédio Moral no Trabalho a pessoa assediada deve sair de uma condição submissa e desenvolver atitudes em sua defesa:
  • Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário).
  • Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do agressor.
  • Organizar. O apoio é fundamental dentro e fora da empresa.
  • Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante sindical.
  • Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo.
  • Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: médicos ou advogados do sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1488/98 sobre saúde do trabalhador).
  • Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou psicólogo.
  • Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para recuperação da auto-estima, dignidade, identidade e cidadania.
Maiores informações e curiosidades sobre Assédio Moral no Ambiente de Trabalho:

Site sobre Assedio Moral com informações e cartilhas sobre o tema:
http://www.assediomoral.org/spip.php?rubrique68

Matéria publicada no portal do servidor público - SENADO:
http://www.senado.gov.br/senado/portaldoservidor/jornal/jornal101/comportamento_assedio_moral.aspx

Cartilha do Ministério da Saúde:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Cartilhamoral.pdf




Coraline e a Tríade Edípica

stop motion
É interessante observar como o processo de escrever vem realmente "de dentro" e toma um rumo natural e verdadeiro. A primeira vez que vi o filme "Coraline e o mundo secreto"  duas coisas ficaram evidentes para mim: os conflitos Edipicos e a semelhança com o filme "Alice no país das Maravilhas". Ao pesquisar o assunto vi que alguns sites citavam pontos Kleinianos tratando os impasses entre a Coraline e a sua mãe como uma alusão a fase em que o bebê se relaciona com objetos parciais, o seio bom e mau, um objeto ideal e outro persecutório (confesso que embora a teoria de Klein seja muito precisa para alguns temas, não é a que mais me atrai). Outros abordavam o conflito vivenciado pela garota entre o mundo ideal e real para abordar a entrada à vida adulta. Eu li, assisti trechos do filme e ainda enxergava "Edipo". Sentei para escrever e pela primeira vez mal conseguia sair do primeiro parágrafo. Levantei, desabafei ao celular com uma amiga (também psicóloga) sobre os acontecimentos do dia  e quando voltei a escrever me dei conta que a dificuldade (bloqueio) vem quando em algum ponto o tema nos toca lá no fundo, mais uma vez dei razão ao Freud. 

Coraline JonesA animação apresenta pais muito ocupados e uma pré- adolescente entediada e sem amigos após ter se mudado de cidade. Tudo muito normal até que Coraline encontra uma chave que dá acesso ao mundo perfeito, onde os pais são amorosos e atensiosos e tudo acontece do jeitinho que ela quer. Quantos de nós quando adolescentes não imaginávamos como seria diferente as coisas se nossas mães dissessem menos "nãos"? É esse o dilema que o filme traz de modo intenso e com qualidade marcante; a animação em stop-motion é espetacular.  O que Coraline e Alice tem em comum? Vidas marcadas por obrigações, regras, expectativas, grandes perdas (Alice o pai, Coraline os amigos) tudo que um adolescente não quer (e mal sabe ) lidar com tais coisas e por isso sai em busca de uma aventura onde possa gozar plenamente de tudo que deseja. A garota fica em extase quando entra em um mundo com pais iguaizinhos aos seus, entretanto, com um grande diferencial: são atentos a suas necessidades. A única diferença é que os "outros pais" não possuem olhos, mas sim botões costurados na face, surgindo dentre aquela realidade tão mágia algo sombrio e mórbido.   
AnimaçãoOs pais reais são aprisionados e os "outros pais" (bruxos) querem que a garota permaneça para sempre naquele mundo fantasioso. Para isso bastava Coraline deixar a "outra mãe" costurar botões no lugar dos seus olhos. A garota encontra almas de crianças que tiveram os olhos costurados em troca de uma vida "perfeita" e então descobre que somente ela poderá salvar a si e a seus pais. Na animação Coraline desafia a bruxa em troca da vida de seus pais, assim como no Mito Édipo consegue decifrar o enigma da Esfinge e salva a cidade e sua mãe. Outro ponto similar a cena mitológica é a referência da perda dos olhos, pois ao descobrir que havia assasinado o próprio pai Édipo desesperadamente arranca os próprios olhos com as mãos, privando-se da visão pela grande tragédia cometida e por não ter reconhecido a própria mãe. Já no desenho os botões marcam o adeus ao mundo real, a sua essência e aos pais verdadeiros com suas qualidades e falhas.
Tríade Edípico
Na teoria Freudiana há um desejo incestuoso da menina pelo pai na relação tríade (pai-mãe-bebê), hostilizando constantemente a mãe por querer assumir seu lugar, por isso, é comum haver atritos na relação mãe-filha. Na adolescência os conflitos se intensificam com o sentimento de culpa e ameaça da castração (sentimentos presentes na animação). De acordo com o autor a resolução do Complexo é responsável pela inserção da criança na realidade e o rompimento das relações simbióticas por meio do reconhecimento das interdições.

Ficou muito complicado? 
Veja o trailer da maravilhosa animação e confira uma linda produção totalmente descomplicada:
 

Mais Informações:
-Teoria Freudiana & Feminilidade

- Fantasias sexuais e edípicas em pré-adolescentes atendidos em grupo de psicoterapia lúdica


Veja também:

Sustentabilidade e Consumo Consciente

Consumo Consciente - Instituto Akatu

A primeira vez que percebi o tamanho da conexão existente entre a Psicologia e a Sustentabilidade foi em uma conversa com uma amiga de faculdade, quando estávamos ainda definindo os temas para o TCC e conversando sobre os pré-projetos no quarto ano da graduação. Nascida em uma cidade do interior de São Paulo, essa amiga fez uma pesquisa que buscava comparar em uma amostra o nível da consciência ambiental dos habitantes de sua cidade e da cidade de S.P., além de observar também a relação de consumo estabelecida pelo participantes. Na época a discussão resultante deste trabalho virou o TCC dela (maravilhoso) e desde nossa conversa minha visão sobre susentabilidade se ampliou.

O Instituto Akatu  lançou uma série de videos, chamada Consumo Consciente, muito bacana que traz reflexões sobre o consumo desenfreado, o ritmo de produção, os impactos negativos causados ao planeta, a supremacia do "ter para ser", o apelo publicitário e as consequências que tudo isso traz para os individuos, bem como o impacto causado em diferentes esferas nas relações cotidianas. Meu episódio preferido é o 08 (ao lado) que faz comparações entre um jovem jacaré e um jovem humano, ele sintetiza tudo que penso sobre este assunto de um modo divertido.

Outro video que traz reflexões sobre estes pontos chama-se "A história das coisas" (abaixo), muito mais crítico e politico contextualiza o consumo excessivo gerado por uma economia que valoriza o acúmulo de riquezas, supérfluos e todo ciclo voraz e desumano gerado pelo consumismo. Neste são apresentados resultados de anos de pesquisas sobre esta temática pela criadora do vídeo Annie Leonard. Veja o trecho da entrevista realizada com a autora pelo jornalista especializado em sustentabilidade Efraim Neto que escreve artigos para a plataforma Mercado Ético.

EN – Em seu livro, você traz diversos questionamentos a respeito do estilo de vida humano. Qual a principal mensagem que você pretende transmitir com a História das Coisas? 
AL – Minha mensagem principal é que podemos produzir coisas melhores e com menos. A mudança é possível. O nosso meio ambiente e corpos estão repletos de produtos químicos tóxicos. A nossa economia, por meio do consumo excessivo, gera quantidades enormes de resíduos e trata as pessoas pobres como descartáveis. Não precisa ser dessa maneira. Pode ser diferente. Com melhores tecnologias, políticas e mudanças na cultura, podemos ter uma sociedade que seja saudável, sustentável e justa.
EN – Qual o nosso maior desafio? Mudar a economia ou mudar as nossas atitudes? 
AL – Precisamos fazer as duas coisas. A crise ecológica e social que enfrentamos é tão grande e tão interligada que todos nós estamos envolvidos. Precisamos mudar nossas políticas econômicas e industriais de modo a promover ambientes saudáveis, sustentáveis e meios justos de produção, assim como nos libertamos dessa obsessão pelo consumo. Basicamente, precisamos apertar o “reset” em nossa sociedade. Precisamos de diferentes tipos de edificações e de um novo planejamento urbano que incentive o transporte público e a congregação entre as comunidades. Precisamos redesenhar produtos para que eles possam estar livres de produtos químicos tóxicos e terem maior durabilidade. Precisamos de um sistema de gestão dos resíduos que incida sobre a reutilização e não apenas na queima ou soterramento das “coisas”. Com a mudança nas sociedades, os líderes e os empresários serão obrigados a pôr a sustentabilidade em prática. As leis precisam mudar junto com as atitudes. Está tudo interligado.

Mais poesia no divã (Drummond)



Veja também:

A criança e a felicidade (John Lennon)

a criança e a felicidade



Veja também:

Relato de uma paixão efêmera

              A gata na janela


Clarice LispectorCheguei em casa... tarde... dia cansativo... final de semestre... provas. Fui à cozinha e lá estava ela... uma gata me olhando da janela. Não é todo dia que ela está lá. Ela vem quando quer... mostra interesse da mesma forma. Antes mantinha distância, me fitava de longe. Quando quer chamar minha atenção caminha de um lado ao outro ou arranha o vidro. Tento ignorá-la mas não consigo, abro o vidro estendo a mão e ela vem... ronronando com um olhar intenso. Então eu pensei "...eu não sou sua dona por quê vens a minha janela?"

Felina... sagaz... misteriosa... Depois que ela se foi logo me veio você na cabeça. Analogia na certa:  não sei onde você mora, não sei o que você quer, surgiu do nada... também não é meu... mas mexe comigo. A questão é que eu ainda não sabia como agir, tentava pegar a gata no colo... bichinha arisca... mantinha-se na janela onde inteligentemente controlava.
Passei alguns dias só, você sumiu. Tudo resolvido, pois já era de se esperar... é da natureza dos gatos. E hoje ao olhar a janela vazia Clarice soprou aos meus ouvidos, consolando-me quanto a frieza felina:


"...Suponho que me entender não é uma questão de inteligência 

     e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca..." 
( Clarice Lispector)     
                                                          
                                                                                                               *Autoria: Carla França - Ago/2009.                                                                                      


Poesia no Divã (Mário de Sá Carneiro)

Você já reparou que há alguns anos o Metrô de São Paulo ganhou poesia em algumas paredes cinzentas? Tá certo que com tanto caos neste meio de transporte fica difícil reparar na beleza dos versos tatuados em alguns espaços. Este aqui é do poeta português Mário de Sá Carneiro, desta coleção este é um dos meus favoritos. Acho lindíssimo, mas, se eu pudesse reescrevê-lo mudaria apenas uma palavra e ele ficaria assim:

"...Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte: A arte
Que vai de mim para o Outro..."

E você? Como deixaria este trecho em vermelho? Mudaria ou manteria o original?

* Foto retirada na Estação do metrô Clínicas

Sexualidade: A descoberta

menino olhando pipiEmbora estejamos no século XXI falar sobre sexualidade ainda remete a vários tabus ou a utilização este termo somente para se referir ao ato sexual. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) "a sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida [...] A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental". A descoberta da sexualidade começa na infância apesar de muita gente não concordar com isto, qualquer pessoa que tenha contato com bebês já deve ter visto a curiosidade com que eles exploram o corpo. Os apelidos que os adultos dão para os órgãos sexuais nestas situações (pipi, passarinho, bilau, perereca, periquita, perseguida, menina, borboletinha, bigulim, pirulito, etc...) mostram a dificuldade de falar sobre isso. Falar sobre sexualidade é falar sobre o corpo, sua exploração, comportamento, individualidade e as sensações envolvidas  nas descobertas que serão realizadas durante a vida inteira.

Culturalmente mulheres e homens entram em contato com sua sexualidade diferentemente. Quando um menino mostra ou toca o próprio pênis é muito comum a família rir ou brincar com a situação, entretanto, quando acontece isso com a menina geralmente é encarado de outro modo. Alguns estudiosos relatam que a própria estrutura fisiológica dos órgãos sexuais influenciam e diferenciam simbolicamente o contato com o próprio corpo ( o pênis fica a "vista", já a vagina fica "escondida") .
Há uma cena do filme Tomates Verdes Fritos onde uma das personagens principais (uma mulher de meia idade, perdida na mesmice do casamento de muitos anos e chegando a menopausa) participa de sessões de terapia em grupo com outras mulheres em busca de explorar a feminilidade e a palestrante distribui um espelho a cada participante para que elas observem a própria vagina, causando um verdadeiro espanto. 

Independente do gênero é importante ressaltar que o contato consigo mesmo denota autopercepção e consciência de si mesmo, fatores que são sinônimos de qualidade de vida e maturidade.
"Estamos acostumados a sentir que nossos corpos são meros veículos, 
nos quais somos obrigados a viver. No entanto, o corpo "somos nós mesmos", 
e, apesar disso, ele nos parece completamente estranho". (Alan W. Watts).


Veja também:

Até aonde o amor pode ir?


"Sem saber amar não adianta amar profundamente."
William Shakespeare

Filme Amor?Na prática clínica ouve-se vivências diversificadas e é muito comum relatos que apresentam a linha tênue deste verbo infinitamente complicado de se conjugar. Ao consultar o dicionário Aurélio fiquei surpresa com a definição da palavra paixão: s.f. Movimento violento, impetuoso, do ser para o que ele deseja. / Atração muito viva que se sente por alguma coisa. / Objeto dessa afeição. / Predisposição para ou contra. / Arrebatamento, cólera. / Amor, afeição muito forte. Interessante observar que em algumas situações o amor e o ódio se mesclam ou intensamente ou eventualmente, mas, geralmente caminham juntos. 

A maioria daqueles que já tiveram um relacionamento amoroso sabem que a vida real não é como um "comercial de margarina", a convivência apresenta uma série de diferenças (pensamentos, interesse, criação, metas pessoais entre outros) que em alguns momentos geram conflitos. Estes podem viabilizar um movimento construtivo se for dentro de um relacionamento saudável ou destrutivo havendo a presença de violência (física ou moral). 
De acordo com Winnicott  "Amor e ódio constituem os dois principais elementos a partir dos quais se constroem as relações humanas. Mas amor e ódio envolvem agressividade. Por outro lado, a agressão pode ser um sintoma de medo. [...] De todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre uma tarefa difícil de identificar suas origens” (2005, p. 93).


O medo, a frustração, o ciúmes e a carência  quando excessivos são pontos que geralmente estão ligados as relações patológicas e o filme brasileiro "AMOR?" (lançado em 2011) traz oito depoimentos representados com imensa vivacidade por atores (Julia Lemmertz,  Lilia Cabral, Mariana Lima, Fabiula Nascimento, Silvia Lourenço, Leticia Colin, Eduardo Moscovis, Claudio Jaborandy e Angelo Antonio) que filmaram as histórias colhidas numa pesquisa sobre relacionamentos patológicos.   

Em entrevista ao Jornal O Globo o diretor João Jardim relatou: "O filme mostra que não existe exatamente um vilão. Existe um processo que leva as pessoas à violência. Certas relações tiram da gente o que a gente tem de pior. Ás vezes é a combinação de duas pessoas que, de repente, não aconteceria com outros parceiros. Há também casos que as pessoas se viciam num tipo de relação que envolve opressão. E tudo isso vale tanto para mulheres quanto para  homens". O filme é intenso, as interpretações são perfeitas e te deixa mexido do começo ao fim com os avessos das relações (em diferentes doses) que existem ao nosso redor. 


Veja também: